Encontros amorosos são interações entre duas pessoas, onde se entrelaçam expectativas, carências, histórias e dores. Nesses momentos, pode surgir a paixão. O apaixonado adora sua própria falta de percepção, chegando a perder os sentidos fundamentais como visão, audição e olfato. Lembra daqueles três macaquinhos que tapam os olhos, ouvidos e boca? Em muitos relacionamentos acabamos agindo assim.
A paixão ignora limites; ela pode gerar uma tal gentileza e flexibilidade que nos afasta da realidade. Ah, ela nos motiva a ter uma tolerância e empatia excessivas pelo ser amado, por aquele ou aquela que conquistou nosso coração. Certa vez, enquanto escutava uma paciente contar a história complicada de uma amiga que se perde em relacionamentos abusivos de maneira alarmante, perguntei o que aconteceria se substituísse os nomes dos personagens e os cenários pela própria vida dela. Foi um verdadeiro mergulho interior tão intenso que ela ficou alguns minutos em silêncio, surpresa ao perceber quão semelhantes eram suas experiências.
O receio de estar sozinho, a contabilização de relacionamentos que não deram certo e a imposição de uma felicidade atrelada à presença de um parceiro nos leva a permanecer em situações que já não nos servem mais. Ana Suy, em “A gente mira no amor e acerta na solidão”, afirma que conseguir ficar só é um indicativo de saúde mental. Talvez devêssemos ter a coragem de nos questionar: por que insistimos em relações tão prejudiciais e que nos ferem profundamente? Como pode ser tão desafiador estabelecer limites, mesmo sabendo o que é benéfico e o que não deve ser tolerado nas interações dos nossos amigos? Essas são questões fundamentais e complexas que devemos explorar ao refletirmos sobre nossa persistência nessas dinâmicas.