Pia Mellody, autora do livro O Vício de Amar, define a dependência emocional como “o vício de perseguir o amor de outra pessoa para preencher um vazio interno.”
Mas que vazio é esse? Por que precisamos tanto ser amados?
O ser humano é um ser relacional. Desde o nascimento, experimentamos sentimentos de desamparo e incompletude, mas é fundamental entender que somos completos em essência. A necessidade de sermos amados e o medo do abandono são sentimentos comuns a todos. Como disse Vinícius de Moraes: “Que me perdoem os solitários, mas é impossível ser feliz sozinho.”
Somos construídos nas relações, e desejar compartilhar a vida com alguém é saudável. No entanto, o que não podemos é depositar no outro a responsabilidade de resolver nossas angústias e inseguranças. Em uma relação interdependente, ambos cuidam e são cuidados, sem que haja uma sobrecarga emocional unilateral.
Vinícius também escreveu: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” E, de fato, encontros e desencontros fazem parte da nossa trajetória. O que realmente importa é como lidamos com as ausências e os desencontros – e essa percepção faz toda a diferença.
Na dependência emocional, deixamos de ser nós mesmos. Perdemos nossa identidade por medo de errar, decepcionar ou ser abandonados. Esquecemos nossas próprias necessidades e, muitas vezes, nem sabemos mais do que gostamos ou queremos. O que passa a importar é apenas o desejo do outro. E, assim, vamos nos anulando, nos maltratando para caber no mundo dessa pessoa. O medo de perdê-la se torna tão grande que acabamos nos perdendo de nós mesmos.
Já em uma relação interdependente, não há necessidade de sacrifícios para estar com o outro. Podemos ser quem somos e, juntos, encontrar caminhos para conciliar diferenças sem abrir mão da própria identidade.
Que tal se perguntar:
• Eu preciso dessa pessoa para quê?
• O que estou fazendo para manter essa relação, mesmo que isso me machuque?
• O que imagino que não posso fazer sem essa pessoa?
• Em quais momentos essa pessoa me faz sentir inseguro(a) ou inferior?
• Quais emoções predominam nessa relação?
• Como essa pessoa me vê?
• Como eu vejo essa pessoa?
Construir uma relação de interdependência saudável promove segurança, pertencimento e apoio emocional. Quando há equilíbrio, é possível estar com o outro sem se perder de si.